09/01/15

- Ela e as manias dela. Ela fecha a casa toda à noite. Tranca porta, janela, tranca tudo. Com esse calor de 40 graus. Aquela escuridão. Deus me livre!
Monique não se conformava com as manias noturnas da mãe. Não conseguia entender por que tanta paranoia. Afinal, as janelas tinham grade. Não havia razão para mantê-las fechadas e trancadas. Sobretudo no escaldante verão carioca. O ventilador de teto não era suficiente para refrescar o quarto, compartilhado por ambas. Todos os anos, durante essa estação, Monique sentia uma depressão profunda. Detestava o calor com todas suas forças. Além disso, com a adolescência, sua irritação veranesca havia se elevado à última potência. Dessa forma, não havia uma noite em que não brigava com a mãe.
- Não aguento mais. Me sinto muito sufocada. Jesus! Minha vontade é de abrir a janela e gritar bem alto.
Para tentar contornar a situação, Monique muitas vezes ia dormir na casa da amiga, pois lá havia ar condicionado. Aproveitava também para se lamentar do comportamento neurótico da mãe. E sempre se indagava o motivo que levou sua progenitora a ter esse comportamento estranho. Não conseguia entender por que ela precisava manter tudo sempre fechado e trancado com a máxima segurança. Evidentemente a cidade não era das mais seguras, mas pelo que se lembra de sua ainda curta vida, nunca havia tido nenhum problema relativo a isso em sua casa. E sempre que perguntava à sua mãe por que ela agia assim, esta desconversava e falava apenas que era melhor assim e ponto.
- Tem que ter uma paciência do cão. Onde já se viu... Eu nem consigo dormir direito. De manhã, a roupa de cama tá toda molhada. É nojento. Não vejo a hora de poder sair de casa.
Nos dias em que não tinha o ar-condicionado amigo à disposição, Monique esperava a mãe adormecer e, assim que ouvia os primeiros roncos leves, corria para a sala, abria a janela e dormia no sofá. Mas em uma dessas noites em que havia escapulido, sua mãe a surpreendeu, assustando-a ao fechar a janela com toda sua força, fazendo um grande estrondo. Mesmo tendo sido repreendida, Monique ainda fazia suas artimanhas e fugia para a sala. Programava o celular para despertar de manhãzinha, para assim retornar ao quarto antes da mãe acordar, e rezava para que esta tivesse um sono profundo e não a perturbasse.
- Isso não é vida! Pela amor de Deus. Esse calor de 40 graus. Ela vai e fecha a casa toda. Tranca porta, janela, tranca tudo. Ela e as manias dela.

Tiago Elídio... Rio de Janeiro... 9/1/2015...

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